Autor: Rubens Junior | Facebook | Twitter
Não é segredo para ninguém. Sobreviver de quadrinhos no Brasil é um desafio absurdo, onde pouquíssimos nomes (como Maurício de Souza, Ziraldo, etc.) venceram. Porém esse fato é apenas relacionado a falta de valorização desta e de outras profissões no nosso país, e não pela falta de talento dos brasileiros. Sem medo de errar, considero o Brasil como a maior casa de talentos artísticos do mundo. E minha razão se evidencia na música, na pintura, na criatividade, na publicidade e, inclusive, nos quadrinhos, entre outros. Sendo assim, com tanto talento, e muita falta de valorização, os artistas brasileiros são obrigados a arrumar um emprego, seja do que for, contanto que pague suas contas, e seu talento aparece de vez em quando, praticamente em forma de hobby. Ou, quando seu emprego é em algum estúdio, editora ou agência de publicidade, e algum cliente faz questão de que o talento artístico seja exposto em seu produto (o que acontece em algumas promoções, eventos esporádicos, etc.). Tudo isso resulta duas consequências principais na aparição de quadrinhos originais do Brasil, no Brasil. Uma péssima e uma excelente:
- A péssima é que os quadrinistas talentosos tentam ganhar dinheiro de outras formas (publicidade é a saída mais fácil) e raramente descobrimos seus trabalhos.
- A excelente é que, quando surge a oportunidade de um trabalho em quadrinhos ser divulgado, o artista aplica tooodo seu talento e produz trabalhos maravilhosos, dignos de inveja internacional, pois sabe o quanto é raro uma chance dessas aparecer novamente.
5 Canecos é um dos grandes exemplos do que expus acima: um trabalho maravilhoso, digno de inveja internacilnal. A Editora Abril e o Estúdio O Contínuo se juntaram para desenvolver 5 histórias em quadrinhos (apenas virtual, disponível aqui) relacionadas aos fatos mais marcantes das 5 copas do mundo vencidas pelo Brasil. E, embora os artistas não sejam conhecidos, vc pode notar seu talento em todas as áreas da arte dos quadrinhos, desde a ilustração, roteiro, narrativa e, neste caso, destaco principalmente a criatividade na forma de expor tais momentos marcantes das copas.
1958 | O UNIFORME AZUL
ROTEIRO: PEDRO FELÍCIO
ILUSTRAÇÃO: OLAVO COSTA
A Copa de 58 foi muito marcante para o mundo mas, muito mais para os brasileiros.
- Foi a primeira Copa que vencemos
- Foi a estréia de Pelé numa Copa
- E, entre outras novidades, foi a estréia do uniforme azul.
Na época o mundo inteiro só falava de Pelé mas, no Brasil, a história que originou o uniforme azul também foi muito comentada e, se vc é um apaixonado por futebol (como eu), já deve ter ouvido vários antigos atletas como Jairzinho, Carlos Alberto, e o próprio Pelé comentando sobre o uniforme azul, sempre que relembram desta copa. É uma história simples, mas interessante. Ela narra a vitória do Brasil na final através do pano azul sendo riscado e costurado. E, das 5 histórias deste trabalho, a forma com que foi contada garantiu o 1º no meu ranking no quesito criatividade.
1962 | DE OUTRO PLANETA
ROTEIRO E ILUSTRAÇÃO: DALTON CORREA SOARES
Embora Pelé também estivesse nesta copa, tivemos outros destaques interessantes:
- O Brasil entrou no seleto grupo de seleções a ganhar 2 copas consecutivas
- O mundo conheceu outra estrela: Garrincha.
O mundo inteiro aplaudiu de pé as jogadas e dribles do Mané, impressionando ainda mais, pelo fato notório de suas pernas serem tortas. Esta história é narrada através de um antigo jornalista que, pelos fatos, concluiu que Garrincha era de outro planeta... rs. Muito bom!
1970 | UM BOTECO, DOIS AMIGOS, TRÊS CAMPEONATOS
ROTEIRO: PEDRO FELÍCIO
ILUSTRAÇÃO: OLAVO COSTA
Os fatos interessantes desta copa, incluem um que não era muito bom para nós, brasileiros:
- O futebol do Brasil é finalmente tricampeão!
- Pelé jogou nas 3 copas campeãs e se consagrou como a maior lenda do esporte.
- A taça Jules Rimet finalmente pertence ao Brasil, após a 3º conquista.
- Infelismente, o Brasil se destruía na ditadura militar.
Esta história é mais triste. Não é tão criativa quanto as outras e envolve mais fotos que ilustrações. Porém, é exatamente este contraste que o povo vivia naquele momento.
1994 | SOB O ESCALDANTE SOL DA CALIFÓRNIA
Embora eu já fosse grandinho na copa de 90, foi em 94 que me tornei um fã do futebol. Acompanhei todos os lances desta copa de perto, deste os amistosos, eliminatórias, todos os bastidores e a própria copa. E, avaliando tudo isso, com certeza o nome desta copa é Romário. Sem ele Brasil não venceria nem os primeiros jogos. Sem ele Parreira teria a mesma fama que Dunga tem hoje. Sem ele esta não seria uma das melhores e mais memoráveis copas do mundo:
Foi a última copa de Maradona
- O Brasil foi o primeiro Tetra
- Romário se consagrou como grande estrela E VOLTOU PARA O BRASIL EM GRANDE FORMA! (ao contrário dos outros jogadores que nunca voltaram. Só agora Ronaldo criou esta moda e outros estão voltando também).
- Mas, um fato pouco interessante, que se tornou icônico nesta copa, é que foi a primeira copa a ser decidida nos pênaltis.
Parece besta, mas quem assistiu, nunca mais esqueceu a tensão que aqueles pênaltis nos causaram. Um jogo com prorrogação com muitas chances, mas sem nenhum gol. 1 pênalti perdido para cada lado. Por fim, Roberto Baggio, o principal jogador da Itália e concorrente a tirar o título de Romário como melhor jogador da copa, enfrenta Taffarel no último pênalti a ser cobrado. É exatamente esta tensão, este desafio entre goleiro e atacante que priorizaram nesta história que, elaborada num clima faroeste, ganhou o 2º lugar no ranking criatividade.
2002 | OS 3 R`s
Esta não é a história mais criativa. Mas, com certeza, é a mais bonita. Embora tivéssemos grandes estrelas em todas as copas do mundo, parece sempre que acima delas precisamos de uma que se destaque ainda mais das outras, para podermos cobrá-la para trazer o caneco para nós. Nesta copa, esta estrela principal havia acabado de voltar de uma grave contusão, que havia prometido arrancá-la do esporte para sempre. Ou seja, estávamos cautelozos, mas esperançosos. No final das contas, todas as estrelas brilharam e a estrela principal se tornou o maior goleador de todas as copas, perdendo injustamente como melhor jogador da copa para um goleiro, mas deixando seu nome como uma lenda na grande constelação de grandes jogadores: Ronaldo realmente foi um fenômeno. Mas como ninguém vence sozinho, esta história também destacou os outros 2 R`s que providenciaram os passes para os gols de Ronaldo: Rivaldo e Ronaldinho.
Até onde sei, esta revista é apenas virtual e não tem possibilidade de produção impressa. Por isso disponibilizei uma montagem da história em JPG, caso tirem o link original do ar. Caso não tenham notado no conteúdo da postagem, segue novamente abaixo:
O talento dos brasileiros em HQ's é indiscutível. Hoje temos muitos no exterior e alguns fazendo sucesso com publicações únicas. Aos poucos estão ganhando mais espaço e, neste rítimo, quem sabe daqui uns 20 anos, nossas publicações originais possam superar o sucesso da Marvel e DC, pelo menos no nosso país.
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