Autor: Rubens Junior | Facebook | Twitter
Apesar de lançar o primeiro livro do Cris em 2009, este querido personagem nasceu há muitos anos antes. A primeira arte do Cris foi uma tirinha criada em 1999, resultado de uma grande história que eu conto a seguir.
Primeira tira do Cris, criada em 1999, publicada até hoje.
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Após morar em muitos lugares e trabalhar como desenhista freelancer para muitas empresas, cheguei em São Paulo com minha família em 1996, decidido arrumar um emprego fixo como ilustrador. Embora eu fosse bem jovem, já acreditava ser um desenhista de ótimo nível. Por isso, achei que seria fácil achar uma empresa que me contratasse para ilustrar quadrinhos, mascotes, livros, revistas, ou algo do gênero. Não conhecia ninguém na cidade para garantir alguma indicação, então juntava minhas ilustrações numa pasta, colocava debaixo do braço, e procurava emprego pessoalmente em jornais, editoras e agências. Mas nenhum lugar estava contratando este tipo de serviço fixo, e todos já tinham uma lista gigantesca de ilustradores freelancers na agenda. Fiquei praticamente dois anos pegando apenas serviços pequenos, ganhando poucos trocados, enquanto ainda estudava.
Até que, lá pelos meus 17 anos, um membro da igreja que eu começara frequentar a pouco tempo, me convidou para uma entrevista em sua empresa. Eu não sabia muito bem com o que ele trabalhava. Mas, como desempregado, eu não negava nenhuma entrevista.. rs. Apenas chegando lá descobri que era um estúdio de ilustração. Fiquei muito animado para trabalhar ali pois eles desenvolviam apenas serviços cristãos, para crianças e adolescentes. Porém, para minha surpresa, o diretor não se impressionou com meus desenhos e, baseado neles, disse que eu não conseguiria desenvolver ilustrações infantis, já que minha pasta só continha Wolverine, X-Men, Conan, esse tipo de coisa. Tentei argumentar, dizendo que era um portfolio improvisado, apenas com minhas últimas ilustrações, tentei convence-lo de que estava enganado desenhando algumas figuras infantis ali na hora, mas nada adiantou. Ele foi educado, conversou comigo a tarde inteira, mas não me garantiu o emprego.
Voltei extremamente incomodado por ter ouvido que "não conseguia". Eu nunca me enganei, nunca me achei melhor do que era. Eu sabia perfeitamente que eu conseguia desenhar em vários estilos, principalmente, porque este sempre foi um dos focos na minha educação profissional. Nunca me permiti ficar preso a um único estilo justamente para poder ilustrar qualquer coisa, do jeito e no momento que quisesse. Estava tão indignado por ter ouvido aquilo, que cheguei em casa e fui direto para o estúdio, determinado a criar um personagem infantil perfeito, elaborar um produto real, para ter algo físico em mãos e nunca mais alguém poder dizer que eu "não conseguia".
Sentei, fechei os olhos e comecei a pensar no universo cristão, buscando alguma inspiração pra criar meu personagem. Baseado nas minhas próprias experiências, percebi que a maior dificuldade de um jovem cristão é conseguir argumentar com os colegas o "por que ser cristão?" Por que não pode beber álcool, fumar, namorar sem compromisso, entre muitas outras questões que até os adultos se embananam para responder. Percebi que a educação cristão das crianças sempre ensinou a decorar as histórias bíblicas, mas dificilmente ensina a vivê-las na prática cotidiana. As crianças cristãs conhecem a história de Davi, mas dificilmente sabem como ser e agir igual a Davi, ou os discípulos, ou o próprio Jesus. E, por esta dificuldade de adaptar a aula à prática, os jovens cristãos acabam até escondendo seu cristianismo, para evitar constrangimentos públicos. Logo decidi que seria esta a base do meu personagem: uma criança cristã, que vive situações reais, com sentimentos reais, mas conseguindo aplicar o cristianismo na sua vida. Decidi que meu personagem seria um exemplo fácil e prático para as crianças compreenderem e imitarem.
Sendo o personagem uma criança cristã, imediatamente pensei num menino que sempre carrega uma Bíblia na mão. Assim, mesmo que a história fosse muda, o visual sempre denunciaria que se trata de algo cristão, sem disfarce, sem meio termo. E, pensando em situações reais, logo pensei num menino enfrentando seu medo (já que crianças tem medo de quase tudo). Pensei num menino enfrentando diversos animais ferozes, mas no final, com medo de um ratinho. Foi a primeira idéia que me veio e achei genial, pois reflete bem a inocência, a individualidade do medo de cada um, e como a fé pode ser frágil dependendo da situação. Já comecei a ilustrar e assim surgiu a primeira tira do... ainda não havia criado o nome. Então, como era um pequeno cristãozinho, resolvi abreviar chama-lo de apenas de Cris. Também achei perfeito. Simples, fácil de lembrar, e bem contextual.
Desenhei, contornei, escaneei e pintei no paint brush (meu computador era modelo 486, não suportava programas pesados como Photoshop). Imprimi na impressora a jato que tinhamos na melhor qualidade, colei papel contact na capa para dar brilho e resistência, dobrei e grampeei. Pronto! Era real. Não eram só minhas palavras, não era só um desenho no papel ou no computador. Era um produto real, uma revista. Embora fosse pequena, com uma qualidade de impressão e acabamento limitada, era real. Acima de tudo, era um bom trabalho. O personagem era bonitinho, a tirinha era simples mas com um contexto interessante, e o formato pequeno com certeza agradaria as crianças. Esta revistinha ficou tão legal que, anos depois, ela foi roubada junto com outras imagens de meu portfolio. De qualquer forma, ainda tenho a arte original e hoje o Gibizinho para Colorir é uma réplica daquela revistinha, melhorada e atualizada.
A intenção inicial era finalizar este projeto e voltar na empresa para provar que aquele diretor estava enganado. Mas estava tão feliz, empolgado e satisfeito com o resultado, que resolvi não correr o risco de voltar lá, e ele não ficar impressionado com o trabalho, não mudar de opinião. Resolvi então encarar esta experiência apenas como um incentivo para que eu criasse o Cris.
O Cris ficou arquivado durante muitos anos com outras ilustrações minhas, enquanto eu seguia minha carreira com Design e Publicidade. Até que, em 2009, resolvemos realizar uma EBF (Escola Bíblica de Férias) na Igreja Cristã da Família em Alphaville. Na primeira reunião de planejamento, conversávamos sobre qual história contar. Como seria a primeira EBF daquela igreja, chegamos a conclusão que precisávamos, de alguma forma, apresentar Jesus para as crianças, que é a essência do evangelho. Mas Jesus é algo muito complicado de explicar para crianças através da Bíblia e, neste momento, lembrei de um personagem que eu havia criado anos atrás, que tinha como objetivo justamente explicar para as crianças o que era complicado na Bíblia, o Cris. Decidi então criar o livro CRIS E O AMIGO CHAMADO JESUS, que foi o tema daquela EBF, o primeiro produto do Cris publicado, e no mesmo evento foi o lançamento do livro. O sucesso foi tão grande que me inspirou a continuar criando e produzindo o Cris, cada vez para mais crianças. Mas daí para frente você já deve conhecer. Se não conhece, acesse o blog do Cris e divirta-se!
Grande abraço!
Rubens Junior
O blog é muito legal, tem muita coisa maneira !
ResponderExcluirTanks hermano! Fazemos o possível ;-)
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