Autor: Rubens Junior | Facebook | Twitter
Sergio em sua última entrevista.
Nesta manhã de segunda-feira, dia 26 de setembro de 2011, faleceu Sergio Bonelli, um ícone no mundo dos quadrinhos, em Milão, na Itália. Aos 79 anos, Bonelli já apresentava problemas de saúde. Em agosto ficou internado no hospital San Gerardo, em Monza, mas se recuperou após alguns dias. Por isso sua morte pegou todos de surpresa.
Bonelli é mundialmente conhecido pelo seu incrível trabalho como diretor da Sergio Bonelli Editore, que publica os principais quadrinhos italianos (fumetti), como Tex, Zagor, Dylan Dog, Ken Parker, Mister No, Brendon, entre muitos outros. Para ter uma idéia de como o trabalho de Bonelli era importante, já tive amigos que odiavam hq's, mas colecionavam Tex.
Acompanhe abaixo um RESUMO DE SUA CARREIRA, com detalhes sobre seus pais e seu início como roteirista e editor, uma ENTREVISTA EXCLUSIVA de Bonelli concedida à revista italiana Sette em 28 de abril de 2011, onde Bonelli fala sobre seus personagens, a influência de seu pai em suas criações, o filme Dylan Dog, e algumas HOMENAGENS ao grande quadrinista, de Maurício de Sousa, Sidney Gusman, Júlio Schneider, Bira Dantas, entre outros.
RESUMO DA CARREIRA
Tea Bonelli |
1955 - Bonelli inicia sua carreira nos quadrinhos na Redazione Audace, editora dirigida por sua mãe. Bonelli produzia serviços gerais, distribuindo revistas, respondendo cartas, etc. Usando o pseudônimo de Annalisa Macchi, Bonelli escreveu Ciuffetto Rosso, ilustrado por Roy D'Amy e publicado na edição 6 da segunda série de Collana Capolavori.
1957 - Após concluir os estudos, sua mãe se aposentou e Bonelli assumiu a direção da editora, agora chamada Edizioni Araldo, e estreou como escritor com o pseudônimo de Guido Nolitta, o qual é famoso até hoje. No dia seguinte, criou Un Ragazzo nel Far West, ilustrado por Franco Bignotti.
1959 - Criou Il Giudice Bean em colaboração com o desenhista Sergio Tarquinio, hq que só foi publicada em 1963, na coleção Gli Albi Del Cow Boy. Nesta época também escreveu alguns roteiros para o título Piccolo Ranger.
1960 - Criou Zagor, em parceria com o desenhista Gallieno Ferri, cuja primeira história foi publicada em 15 de junho de 1961. Zagor é um dos personagens mais famosos de Bonelli, e escreveu seus roteiros até 1980.
1975 - Criou Mister No, um de seus personagens favoritos. As primeiras histórias do personagem, ilustradas por Ferri e Donatelli, se passam em Manaus, em 1950 - inspiradas pelas aventuras que o autor viveu em nosso país.
Gian Luigi Bonelli |
1977 - Cria o roteiro L'uomo del Texas, ainda sob o pseudônimo de Guido Nolitta, com desenhos de Galleppini.
1986 - Bonelli iniciou a publicação de Dylan Dog, o detetive sobrenatural, criado por Tiziano Sclavi. O sucesso do personagem foi tão grande, que superou durante muito tempo as vendas de Tex. Já como diretor da Sergio Bonelli Editore, ele publicou Storia del West, Il Protagonisti, Ken Parker, Martin Mystère, Nick Raider, Nathan Never, Akim, Zona X, Weaver, Mágico Vento, Julia, entre outros, se tornando a principal editora de quadrinhos italianos.
2007 - Bonelli passou o cargo de diretor da Editora para Decio Canzio.
Muitas das publicações de Bonelli chegam ao Brasil através da editora Mythos. Tex é o "carro-chefe", tanto na Itália quanto no Brasil.
28 DE ABRIL DE 2011
ENTREVISTA EXCLUSIVA COM SERGIO BONELLI
POR VITTORIO ZINCONE PARA SETTE - MAGAZINE PERIÓDICO DA CORRIERE DELLA SERA
Senhor Sergio Bonelli, como se pronuncia Groucho, o nome do assistente de Dylan Dog? Grucio o graucio?
Grucio.
E o apelido Willer, viller o uiller?
Uiller. Os contemporâneos do meu pai diziam viller.
É verdade que Tex Willer deveria chamar Tex Killer?
À minha mãe, a primeira editor, pareceu excessivo.
Tex o vingador justo?
Os leitores já viram de tudo.
Um pouco fascista e um pouco liberal?
Consideravam-no de direita porque ameaçava os bandidos sem esperar o processo. Ou de esquerda porque odiava os bancos.
A verdade está no meio?
A verdade, por exemplo, é que também o meu pai odiava os bancos, mas porque tinha estado um belo período à espera de um simples empréstimo bancário e não havia meio de lhe concederem o empréstimo.
Tex é o primeiro cowboy amigo dos índios. Torna-se inclusive chefe dos Navajos com o nome Águia da Noite...
Não creio que o meu pai o tenha pensado por motivos ideológicos. Era um estratagema narrativo: o amigo branco dos índios. Um pouco salgariano.
Tex num episódio recente teve que se haver com o problema da água, e descobriu-se que para ele deve ser pública. Nathan Never é um paladino verde. Dylan Dog numa história totalmente realizada por senhoras diz: "A precariedade é o verdadeiro pesadelo". A sua sensibilidade de editor deve inclinar-se por força com estas tomadas de posição?
Sim, um pouco. Mas são elementos inseridos habilmente. Eu informo-me.
Em que senso?
Até há pouco tempo atrás eu frequentava os locais dos jovens para estudá-los, ouvi a sua música, vi os seus filmes. Eu queria sentir as suas tensões. E empregá-las nas minhas revistas.
Para prender as atenções dos jovens não seria mais fácil comercializar um jogo de vídeo de Nathan Never ou um álbum de cromos (ou também um jogo) de Martin Mystère?
Eu sempre me recusei a isso. Eu faço banda desenhada. De papel. E depois o nosso público não é assim tão jovem.
Qual é a idade média dos seus leitores?
Não creio que existam com menos de 17 anos.
Mas poderia fazer desenhos animados?
De Tex? Mai. Talvez Zagor fosse mais adequado.
Porquê?
Porque tem um lado cómico.
Zagor é uma criação sua. É uma personagem que parece ter uma psicologia mais complexa respeitante a Tex. Isso levanta dúvidas…
Eu e o meu pai éramos muito diferentes. São-no também as nossas personagens.
Seu pai sempre se opôs a inserir cenas cômicas nas aventuras de Tex?
Sim. Mas eu que me ocupava da editora sabia que Capitan Miki e Bleck Macigno, adversários de Tex nos quiosques, vendiam o triplo também porque tinham formidáveis tiradas cómicas.
Foi por esse motivo que, quando em 1961, o senhor cria Zagor e junta-lhe o pançudo Chico?
Sim. Mas Zagor nasce também de outra exigência: compreender se o trabalho dos argumentistas valia todo o dinheiro que eu lhes dava».
O senhor, como argumentista, sempre assinou como Guido Nolitta. Por que?
Para não criar confusão com o meu pai, que à banda desenhada dedicou toda a sua vida.
Quantas revistas vende hoje a Sergio Bonelli Editore?
No mês de Julho, que é o mais florido, cerca de 900 mil. Há alguns anos atrás chegávamos a atingir a quota 3 milhões. Falamos de uma vintena de personagens….
A banda desenhada está em crise?
Está nas trincheiras. Primeiro a televisão. Depois os jogos electrónicos, os telemóveis… Entretenimento fácil para os rapazes de hoje. Imbatível. A banda desenhada por sua vez necessita de silêncio e concentração. Quem faz quadradinhos está destinado a uma batalha de retaguarda. Mas isso é um problema de quem virá depois de mim.
Quem virá depois do senhor?
O meu filho Davide, que tem quarenta anos.
O seu maior erro como editor?
Meter em circulação demasiadas séries. Cinco teria sido o suficiente.
Quais?
Tex, Zagor, Ken Parker, Martin Mystère e Dylan Dog. Tex e Dylan permitem a todos os outros de continuarem.
Não colocou na lista o seu segundo “filho”: Mister No.
A ideia de Mister No ocorreu-me durante as minhas viagens à Amazônia e após ter conhecido um piloto americano no México. Encerrei-o há alguns anos atrás. Vendia nessa altura vinte e três mil exemplares por mês.
Uma série de banda desenhada que vende uma cifra dessas é cancelada?
Se és um editor que paga bem aos seus desenhadores sim. Eu pago-os bem e respeito-os. Inclusive porque convivo com eles desde que nasci.
Quando começou a trabalhar no mundo da banda desenhada?
Súbito. O meu pai no pós-guerra tinha trocado a minha mãe por uma outra companheira. E a minha mãe, dona de casa, tinha fundado uma pequena editora da qual o meu pai tinha se tornado um dos principais autores. Na prática fomos a primeira família alargada de Itália».
Unidos pela banda desenhada e por Tex, que nasceu em 1948?
No início eu fazia de tudo. Inclusive o mensageiro: partia de Milão numa lambreta para ir buscar à Ligúria as páginas originais de Galleppini para Tex.
Nos anos 50 tornou-se editor. Existe algum personagem de banda desenhada criado por outros que gostaria que fosse seu?
Com Hugo Pratt, que era um amigo, falamos amiudadamente de Corto Maltese. Mas é um bem não ter existido um acordo. Teríamos brigado.
Um desenhista que gostasse de incluir na sua equipe:
Entretanto está para estriar entre nós Carlos Gomez, o autor de Dago. Desenhará um volume de Tex Gigante. Para além dele, cortejo há anos, tendo-se agora tornado um jogo amigável, tanto Paolo Eleuteri Serpieri, desenhador de Druna, quanto Moebius.
Moebius é uma lenda da banda desenhada de autor?
Seria um porta-estandarte. Mas esta distinção entre banda desenhada popular e banda desenhada de autor todavia sempre me fez rir. O que quer dizer “de autor”? Mais fastidioso?
Perguntas finais: jantaria com um inimigo?
Por trabalho janto com qualquer um, inclusive com os intelectuais que anos atrás me repreendiam por infestar os quiosques com a minha banda desenhada.
Não o censuram mais?
Não. Agora é chique ler banda desenhada. E muitos até fingem serem fãs.
O nome de um político verdadeiramente apaixonado?
Sergio Cofferati. Uma vez veio à editora por causa de um programa televisivo. Fiz-lhe um exame. É realmente um perito.
A escolha que mudou sua vida?
A mudança do formato de Tex nos anos Setenta: do exemplar em tiras para caderno. Houve um ponto de viragem nas vendas que trouxe um pouco de riqueza. Formato este que se tornou um modelo usado por todos. Chamam-no “bonelliano”.
O que o senhor assiste na TV?
As partidas de futebol e os documentários no History Channel.
O livro?
Lo straniero de Camus. Conheço-o quase de memória.
A canção?
I am easy de Keith Carradine.
O filme preferido?
Entre as comédias Salvate la tigre, entre os western Nessuna pietà per Ulzana, e em absoluto Orizzonti di gloria de Stanley Kubrick que revejo todos os meses.
Já viu o filme de Dylan Dog?
Ainda não.
Colaborou na realização do filme?
Não. Cedemos os direitos há uns quinze anos atrás. A operação agora tem pouco senso. Até porque na Itália Dylan Dog caiu de 500 mil cópias para 160 mil.
Conhece os confins da Líbia?
Infelizmente só os confins. Passei meses nos desertos saarianos que circundam aquele país. Mas na época não se podia entrar. Gostaria de poder ver as pinturas rupestres de Akakus».
Sabe quanto custa um litro de leite?
Não tenho a mais pálida ideia.
Sabe o que é o Twitter?
É algo relacionado com a Internet? Eu não possuo sequer um endereço electrónico. Certas coisas considero-as perigosas.
Qual é o artigo doze da Constituição?
Boh.
É aquele que descreve o Tricolor (seleção de futebol italiana). A Itália tem cento e cinquenta anos: para o senhor o Tricolor é…
Eu gosto da ideia que representa. Dá um tom de unidade a um povo heterogéneo. Testemunha que tentamos.
Porque os heróis de banda desenhada da sua editora nunca são italianos?
Haveria contínuos protestos da parte dos leitores sobre a verosimilhança das aventuras. E depois no México ou na Amazónia pode-se fazer a imaginação voar.
Na Itália, a realidade supera a fantasia. O bunga bunga…
É verdade. Mas uma banda desenhada com esse material seria muito aborrecida.
Copyright: © 2011, Sette; Corriere della Sera e Vittorio Zincone
OUTRAS IMAGENS
Os personagens mais rentáveis da Sergio Bonelli Editore
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HOMENAGENS
Matéria e comentários emocionantes no site oficial da revista Tex no Brasil, com imagens e artigos exclusivos.
A equipe do Os Quadrinhos, desenvolveu este painel especial, que demorou dois dias para ser finalizado, com todos os personagens publicados pela Sergio Bonelli Editore. Este painel está sendo usado na página inicial do blog Os Quadrinhos.
Belas homenagens também no blog Tex Willer, administrado pelo Mário João Marques e José Carlos Francisco. João Carlos nos enviou um email muito atencioso, agradecendo o painel e a galeria de imagens que fizemos em homenagem ao Sergio, e publicou uma matéria imensa, cheia de fotos dele com Sergio e outros amigos que participam do trabalho da editora italiana.
Ilustração de Bira Dantas
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Ilustração de Henrique Plácido |
Ilustração Giancarlo Malagutti (ilustrador de fumetti) |
Ilustração de Mauro Souza |
Ilustrações de Estevão Ribeiro |
Ilustração de Lunyo Souza |
A família Bonelli retratada em seus personagens. |
Se você é um fã das publicações de Bonelli, escreva sua homenagem no site oficial da Sergio Bonelli Editore, que disponibilizou uma página extra exclusiva para comentários e homenagens do público. Para quem não entende italiano, basta clicar no local indicado pela seta para acessar a página.
Caso você tenha artigos, fotos e/ou ilustrações sobre Sergio Bonelli, envie o link ou nos envie para osquadrinhos@jcomunicacao.com para enriquecer nossa galeria em homenagem a este grande nome dos quadrinhos.
eu sou fã de tex adoro muito tambem gosto de zagor,magico vento etc...
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